terça-feira, 13 de janeiro de 2015

"A Segunda Pele da Acácia Mimosa", de Ana Gil Campos

   A Segunda Pele da Acácia Mimosa. Que posso dizer sobre a primeira obra de uma autora ainda por descobrir? Posso, mais que dizer, elogiar muito. Em primeiro lugar, posso admirar o incrível talento que permitiu a autora entrar no mundo da literatura já com uma obra bastante madura. Em segundo lugar, elogio a escrita fluída, simples e profunda que nos cola a cada página. Normalmente, apenas de vez em quando somos surpreendidos por um autor que revele já muito talento na primeira publicação. A última vez que tal aconteceu (na minha opinião e baseado nas minhas leituras) foi com João Tordo. 
   É, mais do que tudo, uma obra de autodescoberta. Dividido em quatro capítulos, o romance é narrado na primeira pessoa. A protagonista da história tem uma irmã gémea que, um dia lhe pede para a substituir na sua vida. Não voltará a ser referida na obra. A protagonista constrói a sua personagem com base no diário que a sua irmã mantinha e que é a chave para analisar profundamente a vida dela. No princípio leva uma vida calma, com os dias divididos entre o trabalho, o marido e as reuniões na sua loja maçónica. Corre bem até ao momento em que descobre que está envolvida com uma ministra do Governo num caso de corrupção. A partir de esse ponto, todo o seu mundo se vê em ruínas, piorado pela situação do "seu" casamento. É aí que a protagonista parte para Barcelona onde fará uma profunda reflexão e acabará por se descobrir. 
   Uma obra de profundidade já bastante madura para primeiro trabalho de uma jovem autora, é um deleite de leitura. Lê-se de um fôlego, mas é compensado pela maneira como nos faz sentir depois. Faz-nos refeltir sobre nós próprios e sobre os outros. Leva-nos a uma autognose. Pelo menos, senti-me dessa maneira. 
   Sinto que nada mais tenho a dizer a não ser que recomendo e insisto a leitura deste romance.

Citações:
"Lembro-me do seu calor humano e, neste abraço, reconheço a saudade genuína que guardava dela."
"A corrupção usa sempre uma máscara e a sua força não é mais do que a nossa fraqueza."
"Recolho-me  num canto da livraria Cultura e perco-me nas suas horas, nas suas histórias. Cumprimento Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Fernando Pessoa."


Pontuação: 8.9/10


Excelentes leituras,
Gonçalo M. Matos

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